Objetos de David Lynch, o “mestre do bizarro”, vão a leilão

São Bento em Foco
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Homenagens, relançamentos de filmes, documentários e até um leilão com objetos pessoais de David Lynch mantêm o imaginário do “mestre do bizarro” reverberando no ano de sua morte. Cerca de 450 itens, incluindo obras de arte, móveis, equipamentos de filmagem, utensílios domésticos e memorabilia, serão leiloados na quarta-feira, 18 de junho, em Los Angeles, pela Julien’s Auctions.

Uma cadeira de diretor promete ser a peça mais disputada da coleção de Lynch, que sofria de enfisema pulmonar e morreu aos 78 anos, em 16 de janeiro deste ano. Com valor estimado entre US$ 5 mil e US$ 7 mil, a cadeira que traz o nome do cineasta gravado em dourado sobre o couro vermelho já recebeu um lance online de US$ 30 mil.

Vários itens estão relacionados a obras-primas surrealistas, sombrias e, muitas vezes, perturbadoras que o cineasta americano assinou ao longo de mais de 50 anos de carreira. Os fãs de Twin Peaks (1991-1992), série que marcou toda uma geração e se tornou um fenômeno da cultura pop, podem brigar pela cortina vermelha e pelo tapete preto e branco em zigue-zague.

Com o lance mais alto de US$ 17,5 mil, os artigos remetem imediatamente ao cenário da produção que acompanhava a investigação sobre o assassinato de Laura Palmer (ainda que a utilização dos itens seja “desconhecida”, conforme informa o catálogo). Vale lembrar que Twin Peaks foi uma das séries mais influentes da televisão. Foi a primeira a lançar mais perguntas, em vez de dar logo as respostas — abrindo caminho para Arquivo XLost e tantas outras que carregaram no mistério.

Twin Peaks também está entre os trabalhos que voltam a ser exibidos, em homenagem ao diretor, que inspirou um adjetivo, “lynchiano”, ao construir um universo tão próprio.

Desde sexta-feira, 13 de junho, a Mubi reapresenta a série ambientada em uma estranha comunidade cercada de florestas no estado de Washington, onde até os cidadãos aparentemente acima de qualquer suspeita escondem segredos cabeludos.

Também foi relançado nos cinemas brasileiros, com cópia restaurada, o filme Mulholland Drive: Cidade dos Sonhos (2001), que está representado em várias peças no leilão. Pinturas com as atrizes Naomi Watts e Laura Harring, na pele das personagens Betty e Rita, assinadas pela artista plástica Allison Reimold, já ganharam o lance de US$ 12,5 mil.

Pelos primeiros roteiros do filme, no qual uma aspirante a atriz recém-chegada a Los Angeles faz amizade com uma mulher que sofre de amnésia, o lance já está em US$ 17,5 mil.

Uma coleção de discos relacionados ao filme Veludo Azul (1986) também integra o catálogo do leilão, realizado em parceria com a Turner Classic Movies. Um lance de US$ 2,5 mil já foi dado ao pacote que inclui o álbum Bobby Vinton: Greatest Hits of Love (1969), de onde Lynch tirou a música Blue Velvet.

Dá para ver que o diretor marcou, com caneta vermelha na capa do disco, o nome da canção que deu o nome (em inglês) ao filme de suspense e, consequentemente, foi destaque na trilha sonora da obra.

Em uma das sequências, a música é interpretada por Isabella Rossellini, no papel de cantora de boate que apresenta a um jovem (Kyle MacLachlan) um submundo de perversidades de uma cidade supostamente tranquila.

A cadeira do diretor já recebeu um lance de US$ 30 mil (Foto: juliensauctions.com)

O legado de Lynch, que adorava brincar com a fronteira entre sonho/pesadelo e realidade, foi explorado na recém-encerrada 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, na mostra Cannes Classics. Como “nada é o que parece ser” nas suas obras, o diretor foi tema do documentário David Lynch, Une Énigme à Hollywood, do francês Stéphane Ghez.

“Faço filmes para me perder em um outro mundo. Para mim, o filme é um veículo mágico que me permite sonhar no escuro”, disse Lynch, em entrevista recuperada no documentário, ainda sem data de lançamento no Brasil.

Como o título já adianta, a produção destaca que a filmografia de Lynch foi construída como “um enigma a ser decifrado”, por trazer peças e símbolos servindo de metáforas em cada um de seus trabalhos.

Entre os objetos analisados estão chaves e caixas, peças que costumam sugerir segredos e mistérios por trás de uma aparente normalidade em suas tramas.

Talvez isso explique o lance de US$ 1,2 mil que um comprador online está disposto a pagar no leilão de Los Angeles por seis caixas velhas que pertenciam ao cineasta.

Sim, a única descrição disponível pelos itens é: “Caixas de madeira multiuso de vários tamanhos do estúdio de gravação doméstico de David Lynch”. O estado de conservação das caixas, de aparência desgastada, sequer é indicado.

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Neofeed

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